Na entrevista que fizemos com o pesquisador José Fernando, ele abordou um pouco sobre seu trabalho contínuo de pesquisa, a parceira que tem com institutos de pesquisa e principalmente com o agricultor, falou também sua avaliação ante o mercado de milho local, dizendo que o milho é um cultura apenas sazonal em nossa região, onde ocupa pequenos espaço nas propriedades tendo um plano secundário para o produtor. Leia a seguir trechos da entrevista;
JPR: Em relação aos preços da safra 2011/20, qual foi a média da saca pra nossa região?
José Fernando Os preços variaram pouco, ficou entre R$18,00 a R$22,00 a saca para quem trabalha na lavoura e pra quem armazena já teve preço mais alto. Acredito que para a safra 2012/2013 possa melhorar, mas vai continuar abaixo das expectativas. O interessante seria que ficasse em R$30,00 que estão pagando agora porque não tem milho, a colheita ainda não começou. Devido a chuva aparecer um pouco atrasada o plantio do milho veio tarde, porém isso não vai afetar a produção, pois o clima esta muito bom e a produção vai ser normal.
JPR:Em relação ao volume de produção da nossa região?
José Fernando A safra foi boa na colheita passada e tenho certeza que esse clima e as chuvas constantes ajudarão numa excelente colheita esse ano também.
JPR:Houve alguma interferência na safra do milho no ano passado?
José Fernando O ano passado teve uma seca forte no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mas esse ano está normal eles terão uma safra muito boa. E para nós o ano passado na colheita do milho tarde a carga de chuva foi grande, atrapalhou um pouco a colheita, porém teve uma produção excelente.
JPR:Você citou que o preço de R$30,00 seria bom, mas o mercado reclama que esse valor é alto?
José Fernando Não é um preço alto. O pessoal de aves e suínos reclama desse valor porque eles vendem muito barato seus produtos. No geral os preços dos produtos agrícolas estão baixos, precisava ter um preço melhor para o produtor.
JPR:De quem é a culpa por esses preços tão baixos?
José Fernando A culpa é de todos. Existe uma pressão do governo no interesse de manter a inflação baixa e ter comida barata. Por outro lado, o agricultor não valoriza seu produto, na hora da venda parece que ele quer se livrar da sua produção. Ele não estipula o quanto quer ganhar, ele pergunta: quanto vão me dar? Sem planejamento fica refém dessa situação. As grandes empresas de insumos têm uma participação grande nessa questão, quando financiam a produção, de certos agricultores, para que possam pagar na colheita. Só que depois da colheita o preço do produto é estipulado pelas empresas que financiaram a lavoura, o produtor nem abre a boca. Isso acontece principalmente no plantio de sementes transgênicas quem vem no pacote juntamente com o adubo e os defensivos. O agricultor vira um empregado de empresas multinacionais.
JPR: Por qual razão o agricultor deixa-se levar por uma situação dessas?
José Fernando A descapitalização. O acumulo de dívidas e sem dinheiro para plantar, as empresas oferecem o “pacote”, ele aceita, talvez ache que será uma saída para ter renda. Isso aumenta a produção e na hora da colheita o preço cai lá embaixo. O interesse das empresas é esse quem tenha bastante produção e preço baixo.
JPR:As sementes transgênicas colaboraram para essa situação e essas práticas também acontecem em nossa região?
José Fernando Sim, tanto um quanto o outro. As cooperativas são como agentes dessas empresas, que abastecem de sementes transgênicas, adubos e fertilizantes as cooperativas e essas trazem os agricultores. No meu caso eu não faço dessa forma. Prefiro fazer com dinheiro próprio o que é possível, e se não for não faço, pra não ficar empenhado com esses financiamentos, pois gera um contrato bem feroz, com hipoteca das terras, das máquinas, todo ano fica hipotecado e se a produção falhar tem que pagar do mesmo jeito.
JPR:Você acredita que o produtor brasileiro não está preparado para questionar e exigir mais garantias e melhor renda?
José Fernando É a força dessas empresas multinacionais aqui é muito grande, por isso não existe essa discussão, diferente do que acontece no Chile e na Europa onde o produtor briga mais na busca por seus direitos. No Chile os produtores são melhores remunerados por seus produtos. Esse negocio de vender mais barato que o custo de produção não existe por lá, como aconteceu com a laranja aqui, vender menor que o custo de produção só acontece no Brasil.
JPR:Fazer financiamento é arrumar uma bola de neve para o produtor?
José Fernando Pelo que tenho visto sim, pois ele agrava mais os preços baixos pago aos produtores. O governo do Estado lançou esses programas de financiamentos para tratores, plantadeiras e equipamentos. O que acontece, o produtor toma emprestado, daí tem que sair plantando adoidado, para poder pagar o financiamento, ele planta, produz, começa a entupir o mercado de produtos e o preço cai aí ele tem que trabalhar mais ainda. E muitos não conseguem pagar, por mais carência e juro zero que tenha. O fim disso será o pequeno vender a propriedade para o médio que vende para o grande, quando não cai na mão de especuladores para virar chácaras clandestinas.
JPR:Voltando na questão do milho, a remoção de pomares de laranjas, tem deixado terras ociosas, devido o produtor não ter certeza que uso dará a elas. É possível, nestas terras, plantar milho o ano inteiro?
José Fernando É possível o plantio durante o ano inteiro somente com irrigação, e no caso para milho verde, que tem melhor preço de mercado. A irrigação para o milho grão não é economicamente viável, a venda do grão não paga a irrigação. Mas na época das chuvas, é uma boa alternativa o plantio de milho nestas terras, para não ficar sem nada, enquanto eles decidem o que fazer. É interessante plantar milho, pois tem diversos usos como milho verde para consumo na culinária, para criação de galinhas e outros animais, tem a silagem e a venda do grão como renda. Mas é bom sempre considerar os custos para evitar gastar muito e não recuperar o dinheiro gasto.
[Matéria publicada originalmente na edição 124 do Jornal Pires Rural, 21/02/2013 - www.dospires.com.br]
O agrônomo José Fernando Martins Borges
Nenhum comentário:
Postar um comentário