ENTREVISTA
Estamos vivendo a segunda onda da epidemia de crack no
Brasil, a primeira aconteceu na década de 1990, não temos campanhas de prevenção,
nem modelos de tratamento, nem controle de oferta. O País sequer entende o que
é a dependência de drogas. A política precisa passar a tratar o crack como
doença crônica. Especialistas no assunto afirmam que internação não é
tratamento, é uma parte do tratamento, a análise da efetividade de um
tratamento só pode ser feita após dois anos. Cada caso é um caso.
O crack ativa um mecanismo compulsivo de consumo, por isso é
muito difícil de tratar. O crack não é a única substância consumida pelos dependentes,
pois muito são poliusuários (usam mais de um tipo de substância), nesses casos
merecem uma desintoxicação detalhada. As ações de tratamento atuais não são
consideradas adequadas, pois a tentativa é tratar esses dependentes como
usuários de outras drogas. O crack possui peculiaridades únicas, levando o
dependente de crack perder vários vínculos como trabalho, amigos, família; o
crack estabelece o isolamento do individuo onde o próprio pensamento fica
comprometido.
Os especialistas apontam que o tratamento inspira uma serie de
cuidados como recuperar o corpo e a mente e voltar ao mercado de trabalho. Após
o tratamento, faz-se necessário garantir o acesso aos medicamentos, à dieta,
aos exames. Tudo amarrado a internação. A questão central é que o País não está
preparado para isso.
O 1º encontro da Comissão de Assuntos Relevantes criada para
providenciar e promover estudos e proposições de políticas públicas para
combater e prevenir os efeitos do crack e de outras drogas ilícitas, aconteceu
no último dia 01 de fevereiro no Plenário da Câmara Municipal de Limeira. A
Comissão é formada pelos vereadores Pastor Nilton Santos (PRB), Dra. Mayra
Costa (PPS) e José Couto de Jesus (Totó do Gás – PSC).
Entrevistamos o vereador Nilton Santos (PRB) para entender o
objetivo da Comissão.
Sua campanha eleitoral priorizou o tema crack, com o slogan
"Unidos Contra o Crack". Trata-se de uma ONG, a qual tem o objetivo
de envolver as mais variadas igrejas no trabalho voluntário de recuperação de
dependentes de crack, com estrutura física e de profissionais da saúde
disponibilizados pelo poder público municipal.
Jornal Pires Rural: Qual é o objetivo da “Comissão das
Drogas”?
Vereador Nilton Santos: O meu trabalho é ajudar o dependente
de crack que não pode pagar pela internação. As clínicas de recuperação
regulamentadas no município somam apenas 5%. O que representa um problema
porque estão sem alvará de funcionamento.
JPR: Esse assunto já foi tema na Câmara Municipal por Paulo
Hadich (quando vereador), houve progresso?
V. Nilton Santos: O próprio prefeito era vereador e abriu
discussão desse assunto, mas não saiu da conversa. Trata-se de um assunto amplo
que esbarra no Plano Diretor do município, onde diz que na zona rural são
permitidas somente atividades agrícolas. Então vou debater questionando a
permanência de empresas e hotéis fazenda na zona rural.
JPR: O Senhor vai fazer a defesa das clínicas de recuperação
na área rural independente do zoneamento apontado pelo Plano Diretor?
V. Nilton Santos: Eu sou a favor de que as clínicas que
estão na área rural, lá permaneçam regulamentadas. Se precisar alterar o Plano
Diretor, nós vamos organizar um batalhão de frente. Na política você tem que
ter "jogo de cintura", senão nada é resolvido.
JPR: Existe um levantamento do número de comunidades
terapêuticas em Limeira?
V. Nilton Santos: Não. Nós vamos chamá-los para termos uma
ideia dos interessados na regulamentação.
JPR: O Senhor é favorável à internação compulsória?
V. Nilton Santos: Trata-se de uma ponta do iceberg. O
governo federal disponibilizou apenas 700 vagas para o estado de São Paulo. Se
você for à cracolândia em
São Paulo , encontrará mais de 5000 pessoas fazendo uso do
crack dia e noite. As vagas da internação compulsória não chegarão por
aqui. Acredito que conseguiremos tratar
o andarilho, o dependente de crack com a regulamentação das clínicas.
JPR: Qual é a sua opinião sobre a descriminalização das
drogas?
V. Nilton Santos: Sou contra. Pode ter dado certo em
países como a Holanda. O Brasil é um país muito populoso, causaria um caos.
Estou falando como ser humano. Não como pastor. A sociedade não aceitaria.[Matéria publicada originalmente na edição 123 do Jornal Pires Rural, 15/02/2013 - www.dospires.com.br]
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