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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Risco dos catadores de materiais recicláveis frente à exposição ao mercúrio (Hg) proveniente de lâmpadas fluorescentes


Palestra proferida durante o Fórum Permanente de Meio Ambiente e Sociedade, com o tema: "Avanços e Desafios da Política Nacional de Resíduos Sólidos", realizado na Faculdade de Tecnologia – FT/ UNICAMP, em Limeira, pela pesquisadora Elizabeti Yuriko Muto do FUNDACENTRO.
A profissão de catador de material reciclável é reconhecida apesar de ser uma atividade informal. Não se sabe quantos são no Brasil. Há uma estimativa do IPEA de 400 a 600 mil, 10% dos catadores estão ligados às cooperativas, na maioria mulheres com salário médio de R$ 520,00. A estimativa da produção de resíduos familiar e público chega 1 kg por habitante/dia de resíduos reciclados em 2012. Em 2011 aumentou em 50% a quantidade de resíduos reciclados. Embora o Brasil ocupe lugar de campeão de reciclagem, na verdade, isso reflete na condição social.

Pesquisadora Elizabeti Yuriko Muto do FUNDACENTRO

A política nacional de resíduos sólidos ficou por 20 anos no Congresso. Aprovada em 2010, tem como prioridade a participação dos catadores na gestão do resíduos sólidos. Cada município terá que elaborar um plano de manejo desses resíduos com os catadores através da responsabilidade compartilhada do ciclo de vida dos produtos.
A logística reversa de alguns produtos considerados perigosos coloca importadores, comerciantes, produtores como responsáveis pelo ciclo de vida de produtos como: agrotóxicos e embalagens, pilhas e baterias, óleos lubrificantes, lâmpadas fluorescentes e produtos eletroeletrônicos.
Em 2007 foram vendidas 169 milhões de lâmpadas fluorescentes. O maior produtor é a China. Em 2009 a produção foi de 3,65 milhões de lâmpadas, a maior parte para exportação. O fato das lâmpadas fluorescentes conter mercúrio tem provocado várias preocupações a nível mundial de todos os produtos de processos industriais que fazem uso do mercúrio, incluindo a mineração.



No estudo de Elizabeti Yuriko Muto ela diz: "A quantidade de mercúrio presente na lâmpada fluorescente corresponde a 1%. Parece pouco. Se considerarmos 180,4 toneladas/ano é muito. A evolução do quanto existe de mercúrio numa lâmpada não está especificado na embalagem. Apesar de haver a diminuição de mercúrio por lâmpadas, a quantidade de lâmpadas aumentou, são 5 milhões de toneladas, aumento provocado pela propaganda na troca de lâmpadas incandescentes por fluorescentes com a promessa de diminuir o gasto de energia, o efeito de gás estufa no ambiente, sempre relacionado com a sustentabilidade”.
Na prática as cooperativas não podem receber lâmpadas. Não é um material reciclável. As cooperativas recebem materiais, quando vão selecionar acham lâmpadas fluorescentes, muitas vezes estouram e liberam mercúrio para o ambiente. Cada espécie de mercúrio tem um comportamento no ambiente e no organismo. O mercúrio é um metal extremamente volátil, vaporiza muito rápido facilmente absorvido no pulmão, niposolúvel, o alvo é o sistema nervoso central e rins. Toxidade do mercúrio: no caso de exposição aguda na forma de vapor vai trazer problemas respiratórios (falta de ar, bronquite e pneumonia). O mercúrio das lâmpadas são facilmente absorvidos pela derme. Quando atinge o sistema nervoso central afeta a coordenação motora, sistema renal, sistema cardiovascular, sistema imunológico e reprodutor.

Como podemos quantificar o risco dos cooperados e catadores ao manipular lâmpadas fluorescentes? Normalmente as cooperativas trabalham com uma média de 50 pessoas, maioria mulheres, 8 horas por dia, 5 dias por semana. As mulheres trabalham na triagem do material que chega, os homens descarregam o material, ambos revelam tipos de riscos diferentes. Os barracões apresentam ventilação precária, não tem local adequado para armazenagem de lâmpadas e eletroeletrônicos.  Elizabeti contou que "para calcular os riscos tenho que considerar dois aspectos: o perigo e a exposição. Perigo: a toxidade do mercúrio em quantidade muito pequena é muito perigoso. Segurança: é variável a quantidade de mercúrio por lâmpada pode chegar a 100 miligramas, quando é quebrada libera em forma de vapor, outra quantidade fica no vidro e é liberada aos poucos, num ciclo de uma semana. Em 8 horas, 1/3 desse mercúrio foi liberado", afirma.
Elizabeti quantificou em sua pesquisa que “Por dia são quebradas 20 lâmpadas em uma cooperativa. Considerando que 1/3 do mercúrio é liberado no ar, 20 lâmpadas multiplicamos por 7 miligramas de mercúrio dividido por 1500 m³ (área estimada do galpão), o resultado é de 0,0093 miligrama de mercúrio por m³. O risco de 0,0093 miligrama m³ comparado a 0,0053 miligrama m³ (concentração de referência) é 124 vezes o nível de exposição do trabalhador ao metal, sem considerar que o mercúrio não está distribuído igualmente” revelou. Isso significa que a analise de risco por contaminação de mercúrio (Hg) pelos catadores indica que a concentração de mercúrio resultante da quebra de 20 lâmpadas supera o limite de exposição estabelecido pela NR-15 e por outras agencias regulamentadoras.
Segundo Elizabeti incluir os catadores na logística reversa, “eles não estão preparados porque não passam por treinamento, não fazem uso de equipamentos de proteção individual”. A recomendação da pesquisadora para a população é fazer uma sensibilização com os catadores, uma campanha de conscientização envolvendo todos os setores, pois desconhecem o ciclo de vida dos produtos de risco.


Capa da edição 140 do Jornal Pires Rural


[Matéria publicada originalmente na edição 140 do Jornal Pires Rural, 18/10/2013 - www.dospires.com.br]

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