No
Brasil, as Constituições até 1891 não contemplavam a educação da zona rural.
Este tema só foi tratado a partir de 1934, isto porque o Brasil foi considerado
um país de origem eminentemente agrária. Evidencia-se aí o descaso dos
dirigentes com a educação do campo.
A
taxa de escolaridade da juventude urbana ainda é 50% maior do que a da rural.
Hoje, no Brasil, dos jovens que vivem no campo, a taxa de analfabetismo entre
15 e 29 anos chega a 9%. A maioria deles é homem e possui renda per capta
abaixo de meio salário mínimo. Na cidade, o índice de analfabetos nessa faixa
etária é bem menor: 2%. A diferença também está no tempo que esses jovens
passam na escola. Enquanto na cidade homens e mulheres estudam, em média, 8,7
anos, no campo esse tempo cai para 6 anos.
Se
a situação do ensino da zona rural melhorou nos últimos dez anos, mesmo assim,
ainda não é a mais adequada. Muitos estudantes do ensino médio ainda precisam
se deslocar até a cidade para assistir às aulas, fator que não só tem
desestimulado os jovens como contribuído para o êxodo rural. A escola no meio
urbano certamente não está preparada para este aluno; vai ter conteúdo voltado
para a situação da cidade e não do campo.
Mas
não são apenas as poucas escolas na zona rural que limitam o acesso dos jovens
do campo à educação. Transportes precários e falta de infra-estrutura também
dificultam a vida de quem quer aprender.
É
preciso que se preserve os saberes do campo, que são fundamentais para que a
própria família entenda e veja naquilo, naquela estrutura escolar, uma coisa
poderosa para ajudar na sua vida.
Temos
enormes potencialidades produtivas, tanto na agricultura como na pecuária; se
soubéssemos explorá-las racionalmente, elas nos permitiriam gerar as riquezas
que tanto necessitamos para reduzir a pobreza rural e também
para solucionar vários dos nossos grandes problemas nacionais.
Dispomos
de tecnologias e experiências bem-sucedidas que são necessários para fazer uma
muito eficiente produção, transformação e comercialização de produtos
agropecuários. Infelizmente tais conhecimentos estão sendo adotados apenas por
uma minoria de produtores rurais mais eficientes. Tal exclusão é solucionável
porque muitas das mencionadas tecnologias e experiências são de baixo custo e
fácil adoção; e graças a essas características, poderiam e deveriam estar
beneficiando todos os produtores rurais do país. Temos à nossa disposição quase
todos os requisitos necessários para fazer uma agricultura que, ao ser muito
mais eficiente e mais produtiva, poderia gerar as riquezas que tanto
necessitamos. Mas a maioria dos nossos agricultores não possui as competências
necessárias para corrigir as suas próprias ineficiências produtivas, gerenciais
e comerciais, pois lhes faltam conhecimentos, habilidades, atitudes e até
valores orientados ao empreendedorismo e ao autodesenvolvimento. E é
principalmente por esta razão que muitos deles são tão dependentes do
paternalismo estatal porque os conhecimentos que os seus pais lhes transmitiram
já estão desatualizados e são insuficientes para que eles possam sobreviver
economicamente na agricultura moderna e globalizada; porque as escolas
fundamentais rurais, que normalmente são a única oportunidade de aprender algo
útil para a vida e o trabalho no campo, ensinam às crianças muitos conteúdos
irrelevantes que em pouco ou nada contribuem a que eles se tornem produtores,
administradores das suas propriedades e comercializadores das suas
colheitas; porque os serviços estatais de extensão rural estão contaminados
pelas interferências político-partidárias, burocratizados e excessivamente
centralizados; porque, com poucas exceções de louváveis iniciativas
inovadoras, as faculdades de ciências agrárias estão excessivamente
urbanizadas e desconectadas da realidade concreta dos produtores rurais e dos
potenciais empregadores dos seus egressos, com uma formação divorciada das
necessidades dos agricultores e dos empregadores. O desemprego nesta área existe
não necessariamente porque a demanda é insuficiente e sim porque a oferta
das faculdades é inadequada às reais necessidades dos demandantes do mundo
moderno.
Corrigir
as distorções e ineficiências deve ser a grande prioridade. Enquanto não
introduzirmos as modificações necessárias no nosso sistema de educação rural, todos
os grandes projetos de combate à pobreza rural continuarão fracassando
e os gigantescos recursos neles aplicados continuarão sendo
desperdiçados, pela razão de que os afetados pela pobreza rural não podem
solucionar os seus problemas muitíssimo mais devido à inadequação e
insuficiência de seus conhecimentos que à suposta insuficiência dos seus
recursos materiais e financeiros.
Em comemoração aos 10 anos do início do Jornal dos Pires, logo acrescentado o Rural, tonando-se Jornal Pires Rural, estaremos revendo algumas das matérias que marcaram essa década de publicações, onde conquistamos a credibilidade, respeito e sinergia com nossos leitores e amigos. Quase sem querer iniciamos um trabalho pioneiro para a área rural de Limeira e região, fortalecendo e valorizando a vida no campo, que não é mais a mesma desde então…
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